“Não sou tuas negas”; ou como o racismo contamina a língua

 

 

 

 

 

 

 

 

“Não sou tuas negas”; ou como o racismo contamina a língua

O Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravidão. São apenas 132 anos que nos separam desse regime cruel que transformou homens livres em propriedade de outros. O nosso modelo social ainda está impregnado pelo racismo e pelo preconceito gerados por esse período lamentável da nossa história como nação. De acordo com a professora Lilia Schwarcz, o racismo é uma linguagem social que está presente em várias esferas da sociedade. E isso fica mais palpável quando lemos sobre os xingamentos desferidos contra um motoboy num condomínio de luxo em São Paulo ou quando um jogador de futebol é chamado de “macaco” por torcidas enfurecidas, ou ainda quando uma juíza decide condenar um homem negro usando a sua cor de pele como motivação. São formas de expressão que revelam muito daquilo que pensamos e sentimos em relação aos negros no nosso país.

Nesse sentido, a linguagem age como mantenedora dos aspectos culturais relacionados a um regime escravocrata e com isso expõe os preconceitos embutidos como uma forma de agressão. Apesar do racismo fazer parte da nossa constituição enquanto povo, certos usos deveriam ser banidos totalmente do nosso vocabulário, justamente pela sua carga negativa e pejorativa. O professor Luiz Melo Rosa da E.M. Herbert Moraes no Rio de Janeiro, cansado de ouvir os xingamentos entre os alunos, resolveu listar os mais usados e descobriu que entre as 600 expressões coletadas, 365 eram de cunho racista. São expressões que passam de pai para filho e acabam sendo naturalizadas no dia a dia. Expressões que nada têm de ingenuidade, pelo contrário, ajudam a reforçar estereótipos contra a população negra e justificar atos de violência verbais contra ela. Vejamos algumas dessas expressões:

CRIADO MUDO: O nome do móvel que geralmente é colocado na cabeceira da cama vem de um dos papéis desempenhados pelos escravos dentro da casa dos senhores brancos, o de segurar as coisas para seus “donos”. Como o empregado não poderia fazer barulho para atrapalhar os moradores, ele era considerado mudo. Logo, essa expressão se refere a esses criados.

LÁPIS COR DE PELE: Num país miscigenado, qual seria a cor da pele?

MULATA: O substantivo vem de “mula”, animal derivado do cruzamento de um burro com uma égua. Era como as filhas bastardas de homens brancos, geralmente Senhores do Engenho, com mulheres negras, geralmente escravas, eram chamadas. Sobretudo, é um termo racista.

DA COR DO PECADO: Essa expressão geralmente é utilizada como forma de elogio. Existe até música sobre a história de amor com um homem da cor do pecado. Mas essa expressão está longe de ser um elogio. Antigamente, ser negro era considerado pecado. Os poderosos da época junto com integrantes da Igreja Católica justificavam a escravidão como um castigo divino. Então, dizer que alguém é “da cor do pecado” é associado a algo negativo.

SAMBA DO CRIOULO DOIDO: Embora remeta a uma famosa música, é uma expressão racista por não só estereotipar os negros, como descriminá-los. Troque ela por palavras como “estardalhaço”, “alvoroço”, etc.

TER UM PÉ NA COZINHA: Durante a escravidão, as mulheres negras que trabalham dentro da Casa Grande podiam ficar apenas na cozinha, sendo proibida a circulação delas por outros cômodos. Foi daí que surgiu essa expressão: da privação da liberdade de escravas e da segregação de mulheres negras. Não quer dizer que você é o chef do momento. Cuidado!

“CABELO RUIM”, “CABELO DE BOMBRIL”, “CABELO DURO” E “QUANDO NÃO ESTÁ PRESO ESTÁ ARMADO”: A questão da negação da nossa estética é sempre comum quando vão se referir ao nosso cabelo Afro. São falas racistas usadas, principalmente na fase da infância, pelos colegas, porém que se perpetuam em universidades, ambientes de trabalho e até em programas de televisão, com a presença negra aumentando na mídia. Falar mal das características dos cabelos dos negros também é racismo.

NÃO SOU TUAS NEGAS: Essa é uma expressão extremamente racista. Na época da escravidão, eram recorrentes estupros, assédios e agressões contra as mulheres negras. Já com as mulheres brancas o tratamento não era o mesmo. A frase se remete a essas mulheres, escravas, que no imaginário popular tudo podia se fazer.

DENEGRIR: Sempre que alguém utiliza essa palavra é para dizer que está sendo difamado ou injustiçado por outra pessoa. Mas segundo o dicionário Aurélio, a definição de “denegrir” é “tornar negro, escurecer”. Então, utilizar a palavra denegrir de forma pejorativa é extremamente racista.

A COISA TÁ PRETA: Quer dizer que a coisa está ruim, perigosa, complicada – porque, afinal, está preta, e nada que é preto pode ser bom. É uma expressão racista para nunca mais usar.

DOMÉSTICA: A palavra, usada hoje para retratar secretárias do lar, vem do termo “domesticado”, que é tudo aquilo que o homem pode domesticar, incluindo animais. Surgiu em meados do século XVI, da necessidade de patrões brancos encontrarem um termo para classificar as escravas negras que trabalham para eles e eram domesticadas através da tortura.

SERVIÇO DE PRETO: A expressão é utilizada com a intenção de diminuir uma atividade realizada e é preconceituosa por desqualificar o trabalho e a competência de pessoas negras.

INVEJA BRANCA: Na contramão de todas as expressões e palavras anteriores, “inveja branca” significa uma inveja que não faz mal, que é do bem. Ou seja, associando à cor branca a coisa é boa, legal e não machuca.

Autora: Maristela dos Reis Sathler Gripp é doutora em Estudos Linguísticos, professora do curso de Letras do Centro Universitário Internacional Uninter

 

 

 

 

 

 

 

 

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Tumor colorretal é segundo tipo câncer mais comum em homens e mulheres

 

 

 

Tumor colorretal é segundo tipo câncer mais comum em homens e mulheres

Dr. Esdras Camargo A. Zanoni*

O câncer colorretal (CCR) é o tumor maligno mais frequente do intestino grosso, que é formado pelo cólon e reto. A estimativa de casos novos de CCR no Brasil para o ano de 2020, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), é de 20.540 casos nos homens e 20.470 casos nas mulheres, sendo dessa forma, o segundo tipo de câncer mais comum entre homens e mulheres.

O risco acumulado de desenvolvimento do CCR ao longo da vida é de aproximadamente 6%. Sabe-se que a maioria dos casos de câncer do intestino grosso provém dos pólipos (adenomas) e, portanto, sua identificação e remoção, por meio da colonoscopia, possibilitam redução considerável no número de mortes relacionadas a esse tipo de câncer.

Rastreamento (prevenção)

O rastreamento é definido com a investigação de pessoas assintomáticas (sem sintomas), a fim de classificá-las em alta ou baixa probabilidade de desenvolver uma doença. Verifica-se que o câncer colorretal é uma doença elegível para o rastreamento pois, tem alta prevalência, pode ser detectado em fase pré-maligna e é passível de ser curado. As taxas de sobrevida podem alcançar pelo menos 90% quando detectado precocemente.

O procedimento mais realizado e mais completo para o rastreamento do câncer colorretal é a colonoscopia, pois pode investigar toda a extensão do intestino grosso (cólon e reto), além de propiciar no mesmo momento a retirada de pólipos e outras lesões.

Populações de risco para câncer colorretal

O risco é determinado por fatores genéticos e adquiridos ao longo da vida. Estrategicamente, os indivíduos são divididos em duas populações: as de risco médio e risco alto. A população de risco médio é composta por indivíduos sem sintomas, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 50 anos, sem outros fatores de risco.

Já a população de risco alto é subdivida em duas categorias: risco aumentado e alto risco propriamente dito. Os indivíduos de risco aumentado são aqueles que: 1) possuem antecedente de pólipos; 2) possuem antecedente de cirurgia curativa para tratamento do câncer colorretal; 3) possuem história familiar de câncer colorretal ou pólipos. Os indivíduos de alto risco são aqueles que: 1) encontram-se sob risco elevado em função do histórico pessoal de doença inflamatória intestinal (Retocolite Ulcerativa e Doença de Crohn) de longa duração, ou seja, com mais de oito anos; 2) encontram-se sob risco elevado em função da presença ou suspeita de síndromes hereditárias (Polipose Adenomatosa Familiar e Câncer Colorretal Hereditário Não-Polipose - do inglês, HNPCC – também conhecido como Síndrome de Lynch).

A importância de se estabelecer populações de risco é orientar a idade de início do rastreamento e definir os intervalos de tempo para a repetição do procedimento escolhido no rastreamento.

Quando iniciar o rastreamento para câncer colorretal?

De maneira geral, recomenda-se que o rastreamento por colonoscopia seja iniciado aos 50 anos, idade em que se atinge o risco médio para o desenvolvimento dessa neoplasia maligna. Entretanto, indivíduos com histórico familiar (parentes de 1° grau) de câncer colorretal, via de regra, devem rastrear aos 40 anos ou 10 anos antes do caso mais precoce (aquele diagnosticado com a menor idade). Em famílias consideradas portadoras da Síndrome de Lynch - cujos critérios consideram: três ou mais familiares diagnosticados com câncer de intestino; um dos quais é parente de primeiro grau dos outros dois; envolvimento de pelo menos duas gerações; um ou mais casos do diagnosticados antes dos 50 anos – o rastreamento deve se iniciar por volta dos 22 anos.

Sintomas do CCR

Muitos tumores não causam sintomas e são descobertos durante exames de rotina ou por meio de um exame proctológico (toque retal). Os sintomas mais comuns são as alterações do hábito intestinal, como constipação ou diarreia, e sangue nas fezes. Nos tumores do reto as fezes podem também apresentar aspecto afilado. Podem estar presentes dor pélvica ou na parte mais baixa do abdome, perda de peso inexplicável ou sentimento de fraqueza contínuo. Frequentemente, dor abdominal e perda de peso indicam doença mais avançada.

Outros problemas do cólon e do reto também podem causar esses mesmos sintomas. As hemorroidas não causam câncer, mas podem produzir sintomas semelhantes. Qualquer pessoa com esses sintomas deve procurar um especialista em intestino para ter um diagnóstico e tratamento precoces.

Diagnóstico e avaliação do CCR

Para o câncer do reto, o exame proctológico (toque retal e retoscopia) é considerado fundamental tanto para o diagnóstico quanto para se estabelecer a estratégia de tratamento. O passo seguinte é a realização de colonoscopia com o objetivo de detectar pólipos ou outros tumores - que podem ocorrer sincronicamente no cólon ou no reto (3% dos casos de CCR) - e biopsiar a lesão suspeita que fora diagnosticada.

Para saber a extensão da doença, ou seja, se há comprometimento para fora do órgão ou à distância (metástase), são realizadas tomografias do abdome e da pelve, assim como do tórax. A coleta sanguínea de um marcador tumoral denominado Antígeno-carcinoembrionário (CEA) também é solicitada. Quando se trata de câncer do reto, a realização da ressonância magnética da pelve é inquestionável nos dias atuais, pois determina se o tumor deve ser tratado com radioterapia e quimioterapia antes da cirurgia. Com esses métodos de imagem se estabelece um estadiamento inicial para o CCR. Contudo, o estadiamento definitivo – que decide sobre a necessidade de algum tratamento pós-operatório (quimioterapia), e disponibiliza uma análise prognóstica da doença - é realizado somente após o tratamento cirúrgico que possibilita a auditoria detalhada do tumor com seus linfonodos pelo médico patologista.

Tratamento

Para se proporcionar a cura, o tratamento cirúrgico do CCR é quase sempre realizado. A cirurgia do CCR remove o segmento intestinal onde está localizado o tumor juntamente com seus linfonodos.

No caso de câncer do reto, dependendo da sua localização – de acordo com sua distância em relação ao ânus – e estadiamento, a cirurgia pode ser realizada através do pelo abdome (na maioria dos casos) ou, em casos selecionados, através do ânus. O câncer do reto também apresenta uma particularidade bem estabelecida sobre radioterapia e quimioterapia que na maioria das vezes acabam sendo consideradas antes do tratamento cirúrgico.

A criação de colostomia ou ileostomia (colocação do intestino aberto na parede abdominal dentro de uma bolsa) depende de alguns fatores que são discutidos com o paciente previamente à cirurgia, mas é um evento realizado em um número muito pequeno de casos. Cirurgiões colorretais ou Coloproctologistas são treinados em cirurgia minimamente invasiva ou laparoscópica e devem oferecer essa via de acesso aos pacientes que é passível de ser realizada na grande maioria dos casos. Sabe-se, por meio de estudos consagrados na literatura médica, que a laparoscopia reproduz os mesmos resultados oncológicos da cirurgia convencional aberta, além de proporcionar uma recuperação mais rápida do paciente no pós-operatório com retorno precoce às suas atividades diárias.

Fatores que influenciam o prognóstico

Sem dúvida, as melhores chances de sucesso e cura encontram-se nos pacientes que apresentam tumores confinados ao cólon ou ao reto. Essa é a única razão pela qual a detecção precoce é fundamental.

Acompanhamento após o tratamento

Mesmo quando o câncer parece ter sido completamente tratado e removido, existe a possibilidade de recorrência, que pode ser local ou à distância (metástases). Isso ocorre porque células malignas não detectadas permanecem em algum lugar do corpo após o tratamento. Para tanto, o paciente deve ser monitorado em intervalos de tempo pré-determinados por meio de avaliações que abrangem exame físico, exames de imagem e colonoscopia, durante um período aproximado de cinco anos.

*Dr. Esdras Camargo A. Zanoni, coloproctologista, cirurgião digestivo e oncológico colorretal do Hospital VITA (Curitiba – PR)

 

 

 

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Acesso às armas de fogo e o mito da segurança

 

 

 

Acesso às armas de fogo e o mito da segurança

Ledo Paulo Guimarães Santos

A Instrução Normativa nº 174 – DG/PF desburocratiza os processos para posse e porte de armas de fogo, amplia o prazo de validade do registro para dez anos, além de prever a possibilidade de aquisição de até quatro armas por pessoa (sem exigências específicas para essa quantidade). Em síntese, trata-se de norma administrativa da Polícia Federal que atende ao desejo do atual Governo Federal, que é a ampliação do acesso às armas de fogo. Escreve-se mais um capítulo na cruzada pelo armamento da população. Rios de tinta já foram escritos sobre o tema, mas parece não ser o suficiente para superar certas ideias. O mito da segurança pelo armamento da população persiste. E mito pode significar ficção, uma pessoa ou um fato cuja existência, presente na imaginação das pessoas, não pode ser comprovada (Dicionário Michaelis).

Nada imaginárias, porém, são as consequências do acesso às armas de fogo.“Após discussão no trânsito, pai, mãe e filho são mortos a tiros”; “Mulher é morta com 11 tiros e principal suspeito é ex-namorado, que não aceitava fim do relacionamento”; “Atentado a tiros em Suzano: o massacre na escola estadual”; “Coronavírus: EUA têm primeiro mês de março sem tiroteio em escola desde 2002”. Todas as manchetes retratam mortes trágicas causadas com emprego de armas de fogo. São todas reais, é possível conferir. Pode parecer apelo, mas infelizmente é fato corriqueiro. Entretanto, por mais trágico que seja, certamente a discussão sobre o tema não deve se resumir a esses apelos. Para ampliar o debate, há pesquisas sérias que confirmam os efeitos nocivos de se armar a população.

Pesquisa de 1999 feita pelo IBCCrim, a pedido da Secretaria da Segurança de São Paulo, mostra que pessoas armadas têm 56% mais chance de morrer numa ação criminosa do que aquelas que estão desarmadas. No Atlas da Violência 2019 - realizado pelo Ipea e Fórum Brasileiro de Segurança Pública - há uma seção específica que trata do uso de armas de fogo em crimes de homicídio, que demonstra um crescimento significativo de mortes por armas de fogo nas décadas de 1980, 1990 e até 2003 (quando entrou em vigência o Estatuto do Desarmamento). "Enquanto nos 14 anos após o Estatuto do Desarmamento, entre 2003 e 2017, o crescimento médio anual da taxa de homicídios por arma de fogo no país foi de 0,85%. Nos 14 anos antes do ED, a taxa média anual havia sido de 5,44%, ou mais de seis vezes maior", revela o estudo.

Há quem demagogicamente diga que “violência se combate com violência”, mas dados, estudos e pesquisas indicam que armar a população não acarreta mais segurança pública.A razão contraria a crença na violência como solução. E, em tempos de negação da ciência e do saber, é necessário dizer o óbvio. Evidente que é justo o anseio por segurança pública, é necessário enfrentar a questão da violência. E isso é função do Estado prover. Não cabe terceirizar a tarefa para a população, pois isso é aceitar e barbárie. Fato é que há outros meios de promover segurança pública - e mais eficazes. Mas facilitar o acesso às armas de fogo – enquanto se discute tachar livros – diz muito sobre o momento atual.

* Ledo Paulo Guimarães Santos, advogado criminalista, é doutor em Direito Criminal pela UFPR e professor de Direito Penal da Escola de Direito e Ciências Sociais da Universidade Positivo

 

 

 

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Ministra Cármen Lúcia participa de debate no UNICURITIBA

 

 

 

Ministra Cármen Lúcia participa de debate no UNICURITIBA

Encontro virtual será transmitido em comemoração aos 32 anos da Constituição Federal

No momento em que valores democráticos, como a liberdade e a igualdade, são objeto de intenso debate, a Ânima Educação, por meio do UNICURITIBA, irá comemorar os 32 anos da Constituição Federal com uma aula magna da ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, do Supremo Tribunal Federal.

O encontro virtual será no dia 5 de outubro, às 19h, e contará com a participação do diretor jurídico da Ânima Educação, Dr. João Batista Carvalho, que fará exposição sobre o ensino do Direito e promoverá um bate-papo com a ministra sobre a Constituição.

A abertura do evento será feita pelo CEO da Ânima Educação, Marcelo Battistella Bueno, que destacará o Ecossistema da companhia e abordará a importância de serem colocados em debate temas tão relevantes para os jovens brasileiros. O encontro será transmitido gratuitamente por meio do link: https://youtu.be/vg1V03lXNIk .

“A Constituição de 1988 é um marco no processo de redemocratização do Brasil. Por isso, cada aniversário seu representa oportunidade de celebrar a proteção meticulosa dos direitos fundamentais e renovar nosso compromisso individual e coletivo com a construção de uma sociedade verdadeiramente justa, livre e solidária. Revisitar cotidianamente seu texto e buscar novos sentidos em suas linhas permite não só consolidar conquistas, mas também avançar na realização de nossos ideais republicanos. Vida longa à Constituição Cidadã!”, diz a coordenadora do curso de Direito do UNICURITIBA, professora Tanya K. Kozicki de Mello.

 

 

 

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Os confrontos na região do Nagorno-Karabakh e suas possíveis consequências

 

 

 

Os confrontos na região do Nagorno-Karabakh e suas possíveis consequências

Nagorno-Karabakh faz parte do Azerbaijão, mas sua população é majoritariamente armênia. Grandes potências locais como Rússia, Turquia e Irã ficam próximas da região do conflito. Com o colapso da União Soviética na década de 1980, Nagorno-Karabakh votou para se tornar parte da Armênia - desencadeando uma guerra que parou com um cessar-fogo em 1994. Desde então, Nagorno-Karabakh permaneceu parte do Azerbaijão, mas é controlado por armênios de etnia, apoiados pelo governo em Yerevan.

A Armênia é majoritariamente cristã, enquanto o Azerbaijão, rico em petróleo, é de maioria muçulmana. A Turquia tem laços estreitos com o Azerbaijão, enquanto a Rússia é aliada da Armênia, embora também tenha boas relações com o Azerbaijão, e venda armamentos para os dois países. Apesar da diferença religiosa, o conflito não tem uma relação direta com esse fato, sendo uma disputa principalmente territorial histórica.

Os confrontos entre Armênia e Azerbaijão foram retomados no dia 27 de setembro de uma forma semelhante e até mais impactante que os de abril de 2016, tornando a maior ofensiva desde a guerra, que durou até 1994. Não há consenso sobre quem desencadeou essa nova escalada de conflitos.

Com a tensão a níveis extremos, os dois países decretaram lei marcial, a Armênia decretou mobilização total e o Azerbaijão uma mobilização parcial. As ameaças constantes de confrontos na fronteira do Azerbaijão, com a Região ocupada do Nagorno-Karabakh, dia após dia sem resolução, aumentam a impaciência do Azerbaijão para a retomada de seus territórios. As pressões para um confronto direto estão relacionadas ao incremento na política de assentamentos dirigidos ao Nagorno-Karabakh pelos armênios, em um território que foi historicamente ocupado e teve sua população original massacrada e expulsa.

O território ocupado se autoproclama uma república autônoma, porém nenhum país (isso inclui a própria Armênia) reconhece oficialmente como tal. Durante o conflito, quatro resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas demandavam a retirada das tropas da região e de sete distritos adjacentes, que também foram ilegalmente ocupados, tomando cerca de 20% do território total do Azerbaijão.

Após um frágil cessar-fogo assinado em 1994, sem nenhuma força de paz estabelecida e com acordos aos cuidados do Grupo de Minsk (com os principais líderes Estados Unidos, Rússia e França), várias violações a ele foram efetivadas desde então, em escalas diferentes. O confronto dessa semana, vem com uma grave ameaça de retomada da guerra em larga escala, especialmente com conquistas parciais de regiões montanhosas estratégicas e vilarejos ocupados a mais de duas décadas, que pode estimular a busca pela retomada dos territórios a força.

As principais potências e organizações internacionais conclamam pelo diálogo e cessar-fogo, mas a ineficiência da participação delas na negociação e a falta de comprometimento da Armênia, principalmente para desocupar os sete distritos adjacentes a região do Nagorno-Karabakh, muito ocasionada por pressões eleitorais internas em vários momentos; fazem com que o Azerbaijão se sinta cada vez mais impaciente para a retomada de suas terras, mesmo com graves consequências humanas e econômicas para toda a região.

As duas principais possibilidades no momento são: a mais provável que é a manutenção de combates na região por alguns dias ou semanas até que organizações internacionais atuem para costurar um cessar-fogo e com pequenas mudanças na dimensão da ocupação armênia na região; ou uma perigosa retomada de guerra, com terríveis consequências para as duas partes.

Enfim, o cenário ideal de atuação internacional dos estados é uma coligação entre Turquia e Rússia, potências regionais, com interesses e possivelmente a habilidade de administrar eventual missão de paz, de preferência com base nas resoluções do conselho de segurança, nos princípios do direito internacional e nas tentativas de negociação anteriores. Porém com o crescente envolvimento direto no conflito essa solução se torna cada vez mais improvável e a situação requer um rápido engajamento internacional para evitar a escalada.

Autores:

João Xavier é mestre em ciência política e pesquisador especialista sobre Azerbaijão e o Conflito do Nagorno-Karabakh

André Frota é professor dos cursos de Relações Internacionais e Geografia no Centro Universitário Internacional Uninter

 

 

 

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