Silenciosa e perigosa, a Sífilis avança no Brasil
Médico da Unimed Laboratório explica sobre a importância do diagnóstico precoce
“Altamente transmissível e ainda sem vacina, a Sífilis tem tratamento e cura, mas, para isso, é necessário o diagnóstico precoce.” O alerta é feito por Jaime Rocha, infectologista da Unimed Laboratório. A sífilis é uma Doença Sexualmente Transmissível (DST) causada pelo Treponema pallidum, capaz de infectar praticamente todos os órgãos e tecidos, provocando as mais variadas manifestações clínicas. O diagnóstico é sempre clínico-laboratorial.
Dados do Ministério da Saúde mostram o avanço da doença em todo o país. Em 2008, o Brasil registrava 7.920 casos de grávidas infectadas pela bactéria Treponema pallidum e, em 2013, 21.382. Relatório interno assinado pelo diretor do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita, aponta para 2016 um total de 28.226 diagnósticos prováveis da infecção em grávidas e 16.226 de sífilis congênita (5,6 a cada mil nascidos vivos).
Os dados apontam somente as gestantes porque não é obrigatória a notificação em outros grupos. Entretanto, a Sífilis e outras DSTs também têm acometido cada vez mais pessoas na terceira idade. “Com a melhoria da qualidade de vida e sexual na velhice, este grupo torna-se vulnerável a estas doenças. Infelizmente esse grupo, muitas vezes, não procura orientação por receio do julgamento devido à idade”, comenta o infectologista.
“O diagnóstico laboratorial da sífilis é baseado em exames de microscopia e exames sorológicos. Os exames sorológicos são os mais usados rotineiramente e podem ser de duas categorias. A primeira categoria são os não-treponêmicos, em que os mais comumente usados são os VDRL (Venerial Disease Research Laboratory) e o RPR (Rapid Plasma Reagin) para o screeming rotineiro, valioso para estabelecer o diagnóstico por ser expresso quantitativamente e que, quando positivo, pode ser usado para avaliar a eficácia do tratamento.” Estes testes tornam-se positivos após quatro a seis semanas da infecção ou uma a três semanas do aparecimento da lesão primária (cancro).
A segunda categoria são os testes treponêmicos, nos quais o antígeno é o próprio treponema ou suas proteínas, com os quais reagem os anticorpos. São eles: o TPHA (hemaglutinação) e o FTA-abs (atualmente pouco utilizado pela sua complexidade). Os testes de enzimaimunoensaio, que por serem altamente sensíveis, específicos e automatizados são mais reprodutíveis.
Na sífilis congênita, quando a mãe infectada passa para o bebê, além desses exames, devem ser solicitados também o hemograma completo, raio X de ossos longos e exame do líquido céfalo-raquidiano ou líquor (LCR) para análise da celularidade, proteínas e a realização do VDRL. O VDRL do recém-nascido enquadrado na definição de caso deve ser realizado com sangue colhido de veia periférica, e não de cordão umbilical. Os exames treponêmicos podem ser reagentes até o 18º mês de vida, em razão da transferência passiva de anticorpos maternos, e raramente são utilizados para a definição diagnósticas em crianças até essa idade.
Transmissão
A transmissão acontece durante todas as formas de contato sexual, por meio de pequenas lesões da pele e mucosas, genitais ou extragenitais. Raramente é transmitida por transfusão sanguínea ou pela placenta. O diagnóstico é sempre clínico-laboratorial.
Fases da doença
O especialista da Unimed Laboratório explica que, clinicamente, a sífilis se apresenta em três fases. A primeira é como infecção recente (sífilis primária), com uma lesão inicial que é o cancro duro, que aparece duas a seis semanas após a contaminação e que desaparece em cerca de quatro semanas, sem deixar cicatrizes, mesmo sem tratamento.
A segunda forma, de acordo com Rocha, é como sífilis tardia, que surge após o primeiro ano de evolução e ocorre em indivíduos não tratados ou inadequadamente tratados. Nesta fase as manifestações podem acontecer na pele, nos ossos, no coração, no cérebro e outras. Na sífilis secundária há a disseminação dos treponemas pelo organismo. “Como a primeira e a segunda fases são separadas por um período latente e sem sintomas, a doença pode ser altamente destrutiva e levar à morte”, diz o infectologista. Já a terciária se caracteriza pela lesão, principalmente do sistema nervoso central e cardiovascular.