De olho na crise: chegou a hora do capitalismo se reinventar?

 

 

 

De olho na crise: chegou a hora do capitalismo se reinventar?

Segundo o especialista em Sustentabilidade e Relações Internacionais Gustavo Loiola, as desigualdades raciais e de gênero são também responsáveis pela crise global

No início dos anos 60, a principal evidência sobre o capitalismo era relacionada a sua extrema responsabilidade sobre o lucro das empresas. O conceito estimulava um modelo cada vez mais centrado nos acionistas, com uma visão de baixo risco e curto prazo. Com o passar do tempo, até mesmo as ideias de responsabilidade social corporativa foram excluídas dos grandes negócios capitalistas. Entretanto,é de conhecimento geral que a história evoluiu de maneira diferente.

Em 2020, o mundo está passando por mais uma crise sem precedentes. Dados da Organização Internacional do Trabalho mostram que aproximadamente 400 milhões de pessoas perderam seus empregos nos últimos meses em todo o mundo. Além disso, os índices de falências de empresas têm aumentado a cada dia. De acordo com o especialista Gustavo Loiola, supervisor de Sustentabilidade e Relações Internacionais no ISAE Escola de Negócios, as desigualdades raciais e de gênero também potencializam toda essa situação globalmente.

“O fato é que o capitalismo atualmente é o único sistema socioeconômico do planeta, especialmente pela sua capacidade de conexão e relacionamento com o mercado e a política”, conta Loiola. “É inegável que ele estimulou um rápido crescimento em relação a renda e riquezas, saúde e prosperidade, influenciando inclusive a expectativa de vida da população. Por outro lado, é um sistema extremamente desigual, que polariza a sociedade e, segundo alguns autores, prejudica a democracia, pois diminui o debate e o respeito por diferentes opiniões”, enfatiza o especialista.

Felizmente, nos últimos anos, está cada vez mais comum encontrar empresas focadas no bem estar social. Em 2019, CEOs e diretores de 180 grandes empresas norte americanas, como Apple e Walmart, comunicaram que o capitalismo voltado para os acionistas deveria acabar e que seria necessário levar em conta o interesse dos stakeholders, investindo em seus funcionários, protegendo o meio ambiente e lidando de forma justa e ética com seus fornecedores - ou seja, o sucesso da empresa atrelado a prosperidade da comunidade e do planeta.

“Essas manifestações de líderes empresariais, governos e nações em relação à temática são importantes e pertinentes, mas precisam partir para a ação”, diz. “Reinventar o capitalismo não é uma tarefa fácil. É necessário refletir, discutir e assumir responsabilidades. A forma com que chegamos até aqui não vai nos levar muito mais longe. A grande questão é: sairemos dessa crise atual fortalecidos e transformados ou tudo vai voltar ao “normal”?”, questiona Gustavo Loiola. “Olhando para o panorama elencado pelos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, é possível perceber que muito ainda precisa ser feito para atingir um planeta mais inclusivo e justo para todos”, completa o especialista.